quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O CRISTIANISMO NÃO FALHOU: AINDA NÃO FOI TENTADO

Por Pedro Arruda

Um dos maiores erros da igreja, embora pouco admitido, porque os homens convivem muito bem com ele, é a divisão ou a falta de unidade. Já assistimos muitas vezes a cristãos morrerem por causa das mais diversas doutrinas. Em muitos casos, essa defesa da doutrina atropelou a unidade. Considerar a unidade significa perda, pois implica aceitar aquilo que não está dentro de nós e, consequentemente, qualquer concessão a ser feita resultará numa redução da liberdade própria. Infelizmente a história da igreja tem sido também a história da divisão.

Esta situação intenta diretamente contra a oração de Jesus, registrada em Jo 17.21: “Para que todos sejam um, como eu e tu, ó Pai, somos um, para que o mundo creia”. Se dar realidade à oração feita de acordo com a vontade de Deus é uma ação do Espírito Santo, podemos concluir que impedir a sua concretização é uma ação de Satanás, conforme o observamos em Dn 10. Assim, cada vez que agimos impedindo que a unidade dos cristãos pedida por Jesus se realize, estamos a serviço de Satanás. Isto é forte, mas é verdade. Quando Pedro foi repreendido por Jesus, ao tentar demovê-lo da intenção de morrer na cruz, ficou claro que ele estava cogitando das coisas dos homens a serviço de Satanás. Esta situação pode ser um bom exemplo do que atrapalha a unidade: são intenções humanas – às vezes boas –, porém a serviço de Satanás. Creio que Pedro não tinha consciência desta gravidade, como também não tem a maioria dos cristãos. Mesmo quem admite falhar com a unidade, pensa tratar-se de uma deficiência humana, apenas uma carnalidade sem grande importância.

Paul E. Billheimer, em seu livro “O Amor Cobre Tudo”, expõe que nada adianta acertar na doutrina e errar no espírito. A inerrância bíblica não é mais importante que o espírito correto. Ainda mais, diz ele, o pecado contra a unidade é o mais nefasto de todos para a Igreja.

Jesus não é polígamo

Unidade não é um ecumenismo, entendido como resultado duma convenção política entre as instituições, baseado no que um pode fazer pelo outro, mas sim, como se referiu Dietrich Bonhoeffer, “no que Cristo fez por ambos”. Para usar a expressão de Watchman Nee, o “cristianismo organizado” tornou-se uma máquina de produzir divisão em série, numa velocidade cada vez maior. Parece que cada denominação traz em si o gene da divisão, transmitido de geração em geração. O mundo cristão, a princípio dividido apenas entre romanos e orientais, depois se separou entre católicos e protestantes, pentecostais e conservadores, carismáticos e tradicionais, e assim por diante. Se há algo bom nisso, é o fato de que quanto mais proliferam as denominações, mais elas perdem a importância – bebem do próprio veneno.

Não podemos nos conformar em estar impossibilitados de fazer algo, como se isso fosse um destino inexorável, e a oração de Jesus ficasse sem resposta, ou adiada para se cumprir somente após a morte do último cristão. Ora, o fato é que Jesus tem apenas um corpo, irá ter apenas uma noiva e apenas uma esposa. Jesus não é polígamo, muito embora seja esse conceito que se propague quando cada igreja prepara apenas a sua noiva particular.

Precisamos reconhecer o erro e admiti-lo. Não encobri-lo com explicações, por mais teológicas que sejam, aprendendo com a história para não repetir os caminhos errados. Estas coisas precisam ser iniciativas do coração de cada um.

Se a vontade de Deus não é desejada, não há unidade

Uma das razões que desencadeou o processo de sucessivas divisões foi a mudança de foco do cristianismo. A princípio, a Igreja apenas reunia aqueles que tinham em comum o serviço ao senhor Jesus Cristo. O importante era o reino de Deus; a salvação e outros benefícios eram consequências desse engajamento. Com o passar do tempo, especialmente depois de cessadas as perseguições, a relação entre custo e benefício alterou-se drasticamente em favor dos benefícios, especialmente os materiais. Nos dias atuais, as pessoas são motivadas a participarem das igrejas pelos benefícios pessoais que podem obter; primeiramente os materiais, seguidos dos espirituais, e, somente depois é que se consideram as coisas que dizem respeito à vontade de Deus, interesse que certamente poucos entendem e ao qual dão mínima atenção.

Portanto é necessário restabelecer que a igreja existe para atender aos propósitos de Deus. Os benefícios obtidos por servir a Ele, inclusive a salvação, são consequências. Se isso é verdade, é incorreta a atitude de procurar a melhor igreja, à qual eu melhor me adapto, pois com isso estou buscando aquilo que é melhor para mim, o meu conforto, e não preocupado com o reino de Deus. Mudar de igreja pode ser uma atitude que depõe contra a unidade, pois ao rejeitar uma em favor de outra, estou contribuindo para a ideia de que há algumas melhores que outras e que elas são concorrentes e independentes, isto é, não fazem parte de um mesmo organismo. Nestes casos, o correto seria ficar onde estou e lutar para suprir aquilo que julgo ser deficiente e não buscar aquele ambiente que não precisa desta colaboração.

Deus, ao criar o homem, não fez da unidade um acessório, mas uma questão principal. O plano de Deus permite que os homens desfrutem da unidade com seu Criador e entre si, daí Deus não ter criado dois seres nem mesmo dois corpos, mas um só. “Se andarmos na luz como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1.7). O pecado age diretamente contra essa unidade, e fora da unidade com Deus não há vida, mas morte. Lúcifer se separou de Deus, o homem também fez o mesmo, estando sob condenação mortal.

O preço da Unidade

Deus insiste na restauração dessa unidade, em dar vida novamente ao homem. Lutar pela unidade causa sofrimento, do qual o próprio Deus não se poupou. Quão difícil foi para Jesus aprender humanamente a obediência pelo sofrimento e, por meio dele, se aperfeiçoar, para aperfeiçoar a outros. Jesus experimentou os sofrimentos físicos que culminaram na sua morte de cruz, sem um momento sequer desobedecer ao Pai. Sofreu ainda as consequências de nossa morte no inferno, tudo por causa de nossos pecados. Também foi muito angustiante ao Pai virar o rosto e abandonar o seu Filho à morte de cruz. Tudo para restituir-nos a unidade. Ele nos deu de graça, tornando-se exemplo para seguirmos em favor da manutenção da nossa comunhão com aqueles pelos quais pagou este alto preço. A unidade entre os filhos alegra Deus, pois torna compensador o sacrifício do seu Primogênito.

Foi nesse mesmo espírito que Moisés agiu ao deixar o palácio real e preferir viver como o hebreu que de fato era. Daniel assim também procedeu, pois, apesar de manter uma vida íntegra diante de Deus, expressou-se em oração como um pecador responsável pela deportação de seu povo. Esdras também se sentiu como um dos culpados pelos pecados que fizeram abater a tragédia sobre os judeus. Muitos outros exemplos ainda há de pessoas que se fizeram como erradas em seu coração para se habilitarem a estar entre os culpados e Deus. O contraexemplo foi apresentado pelos escribas e fariseus, quando Jesus expôs a arrogância deles ao se excluírem do povo. Acusavam os pais de terem assassinado os profetas, fazendo-se melhores e afirmando que não procederiam da mesma forma, ao mesmo tempo em que estavam dispostos a fazerem pior com o Filho de Deus. Hipocritamente atualizavam o pecado dos pais e, ao invés de buscar misericórdia de Deus, apresentavam-se como bons (Mt 23.29).

Certa ocasião, Moisés recebeu uma denúncia de que havia pessoas profetizando no arraial, sem conhecimento dele. Semelhantemente, os zelosos discípulos de Jesus também se adiantaram a proibir a expulsão de demônios por pessoas que não os acompanhavam. Os discípulos de João Batista também se sentiram extorquidos quando souberam dos batismos feitos pelos discípulos de Jesus. As atitudes de Moisés e de João Batista foram iguais à de Jesus, pois estavam sendo conduzidos pelo espírito de unidade. O ciúme é um dos grandes males causadores de divisão, porque age no coração das pessoas. Ele faz oposição ao amor e está presente nos denunciantes bem-intencionados em defender o líder e o grupo ao qual pertencem, embora, nos casos bíblicos mencionados, não tenha havido correspondência por parte dos líderes – que responderam com base no amor. Infelizmente, esta visão menor impregnou, nos dias de hoje, de tal forma a igreja que nem mesmo os líderes conseguem ter a atitude de Moisés, João Batista ou de Jesus.

Em Efésios 4, vemos que preservando a unidade do Espírito que nos foi dada, devemos prosseguir em busca da unidade da fé. Temos, entretanto, assistido a uma caminhada em que os homens estão destruindo a unidade do Espírito, admitindo mais de um Senhor, mais de uma fé, mais de um batismo, mais de um corpo...

Publicado originalmente no livro “Mãe de muitos filhos”, de Maurício Bronzatto, Edições Incenso.

3 comentários:

Unknown disse...

Estamos em greve!
No dia 29 de março de 2011, nós, estudantes de diversos cursos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, fomos às ruas para mostrar nossa indignação com a situação em que se encontra a universidade pública. Fizemos manifestações durante todo o dia, paralisamos as atividades acadêmicas da universidade em todos os turnos e marchamos pela avenida Olívia Flores em Vitória da Conquista, além de realizarmos assembléias para decidir os rumos da nossa organização. A manifestação contou com a participação de mais de 300 estudantes. Os discentes dos campi de Itapetinga e Jequié também estão mobilizados e paralisaram a universidade nesse mesmo dia. Além da nossa pauta histórica por assistência estudantil e por melhores condições estruturais e administrativas na universidade, reivindicamos contra a atual política educacional do Governo do Estado.
A greve de alunos e professores já dura quase 1 mês.
Em 09 de fevereiro deste ano, o Governo da Bahia editou o decreto 12.583/11 e, pouco tempo após, a portaria 001 que o regulamenta. Cortando verbas para as empresas públicas, o decreto impede a contratação de professores substitutos (impedindo a saída dos professores para qualificação) e a mudança de regime de trabalho de professores para Dedicação Exclusiva (diminuindo a disponibilidade de professores para a pesquisa e extensão). Além disso, corta gastos com água, energia, xérox, cursos, seminários, capacitação e treinamento dos servidores públicos, telefone, assinatura de revistas e jornais, ônibus e demais veículos da universidade. Tais contenções chegam a 60%! Essas disposições irão piorar ainda mais as condições já precárias das universidades baianas, além de ferir a autonomia universitária. Isso demonstra qual lugar ocupa a educação no rol de prioridades do governo, e qual o projeto de educação ele implementa – o de total esfacelamento da universidade pública.
Diante disso, nossas reivindicações são:
PELA REVOGAÇÃO IMEDIATA DO DECRETO 12.583/11;
Contra o aumento do preço da tarifa de ônibus e pela melhoria dos serviços de transporte;
Contra os preços abusivos e a comida de má qualidade das lanchonetes e do restaurante universitário;
Por melhores condições na residência estudantil e pela reformulação, com participação dos estudantes, do seu edital que, por excesso de burocracia, impede o acesso aos estudantes;
Pelo pagamento em dia das bolsas auxílio, monitoria, pesquisa e extensão;
Pela transparência acerca da administração do orçamento da universidade;
Pela criação e manutenção de projetos de pesquisa e extensão;
Pela construção de salas de aula e laboratórios que atendam à demanda estudantil;
Pela regularização do quadro de professores (atualmente faltam 46 professores) e contratação de mais docentes;
Pela diminuição do preço abusivo da xérox;
Por melhores condições de acessibilidade e infra-estrutura para os estudantes portadores de necessidades especiais;
Pelo aumento imediato do número de livros da biblioteca;
Em defesa de uma universidade pública de qualidade, contra o seu sucateamento e terceirização dos seus serviços!
MOVIMENTO ESTUDANTIL UNIFICADO DA UESB
(blog: www.mobilizauesb.blogspot.com
www.greveuesb.blogspot.com)
(Twitter: #mobilizauesb)

ERICA disse...

emprega domestica tem direito a quantos dias de férias

DeniBarreto disse...

Olá Sr. Montanini. Tenho acompanhado seus artigos e acho muito interessante. Gostaria de uma ajuda. Estou fazendo um TCC sobre os desviados das Igrejas Evangélicas brasileiras e encontrei um artigo seu na revista Impacto falando de alguns dados (30 a 40 milhões de desviados). Gostaria de saber como o Sr. chegou a este número, pois gostaria de usá-lo em minha pesquisa. Desde já agradeço, meu e-mail é dbrpira@bol.com.br