quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O princípio do precedente

Luiz Montanini

No Direito, quando uma causa inusitada é ganha em última instância abre-se o que se chama precedente jurídico e torna-se jurisprudência. A partir dela, todas as outras causas semelhantes passam a desfrutar do mesmo benefício. Já não é preciso percorrer o mesmo caminho outra vez, porque ele foi aberto, por meio do precedente. Quando um reclamante ganha uma causa de uma companhia de cigarros, por exemplo, todos os fumantes em situação semelhante podem entrar na Justiça com a garantia de causa ganha. É o que acontece em geral, e muitos são beneficiados, em avalanches de processos a partir do estopim da primeira causa.
Entendo e estou convicto de que assim também é no mundo espiritual. Quando um homem obtém algo no mundo espiritual, seja vitória ou derrota, aquilo reverbera de forma ostensiva e progressiva e produz conseqüências espirituais e naturais.
Vamos começar pelo mau exemplo, lembre o que aconteceu recentemente após o caso do assassinato da namorada e ferimento da amiga em São Paulo. O evento, trágico, foi lançado de forma satânica na mídia, em rede nacional e a partir dali alcançou outras mentes suscetíveis de alterados emocionais que passaram a cometer atos passionais semelhantes.
Coincidência? Não quando a questão é espiritual. Divulgar desgraças em rede tornou-se artimanha maligna corriqueira. Satanás, a antiga serpente, não descobriu isto agora. Tão antiga quanto astuta, conhece há milênios o poder da palavra e hoje apenas usa a mídia de forma estereofônica para divulgar suas diabruras e desta forma abrir precedentes que espalhem o terror em série.
Ou seja, como é um princípio antigo, e Satanás é tão antigo quanto, ele o conhece e o usa desde a antiguidade.
Mas, - e isto é boa notícia, pode publicá-la - a igreja começa a descobrir este princípio também e tem se dado conta de alguns princípios que regem o mundo espiritual. Um deles, lançado por gente por assim dizer especializada em batalha espiritual, é o da legalidade. Grosso modo, reza o seguinte: se há pecado na vida de alguém ou da comunidade, este cria a legalidade para o diabo atazanar a vida pessoal daquele ou coletiva, daquela.
Nesta linha, gostaria de chamar a atenção do leitor para um outro princípio, o do precedente. Ou seja, se obtemos revelação e decorrente vitória e restauração em alguma área espiritual, esta conquista se multiplica no mundo espiritual e se aplica à igreja em efeito cascata e afeta o mundo, de roldão.
Paulo disse algo significativo a este respeito, e que talvez sirva de base para os argumentos deste artigo. Ao se referir ao pecado de Adão e ao posterior conserto do estrago feito por Jesus, acabando com a raça adâmica ao morrer como o último Adão e criando o segundo e novo homem, ele explica que assim por um homem o pecado entrara no mundo, também por um homem viera a justificação. Ou seja, em Adão todos pecamos, mas em Jesus todos fomos justificados. A conseqüência funesta do pecado aconteceu em cadeia, mas a salvação e regeneração gloriosa de Jesus tiveram maior efeito no mundo espiritual.
Isto quer dizer que quando alguém obtém certa vitória espiritual, aquela conquista é embutida no caput da lei de Deus e se torna poder de Deus para abrir precedentes no mundo espiritual. Reivindicada depois, é incorporada ao processo de restauração e à vida da igreja como fato consumado.
Assim aconteceu no maior e necessário dos eventos cósmicos de que se tem e terá notícia, a morte e ressurreição de Jesus. Sua morte foi a de toda a humanidade e sua ressurreição a do nosso estabelecimento como novos homens, criados em verdadeira justiça e santidade, a partir do padrão perfeito, Jesus. O que se deve fazer, destarte, nada mais é do que apregoar este fato pelas ruas e telhados, pela mídia ou boca-a-boca.
Não é por acaso que o Deus triuno é chamado o Verbo. Foi assim desde o princípio. Deus falava e acontecia, nos dias da criação. Depois, o verbo se fez carne. A Palavra criativa sempre gerou vida. E, para confirmar, consolidar e lhe dar um caráter perene, Deus mesmo providenciou que fossem escritas e verbalizadas ao longo dos séculos. O pregai do Ide não é nada mais do que divulgar estas conquistas de Deus e de seus homens.
Em 1948, durante o conhecido movimento da chuva serôdia, surgiu a revelação, que estava oculta há quase dois milênios, da imposição de mãos pelo presbitério e do que ela significava e implicava. A partir dali, por causa do precedente, o caminho foi aberto e, desde então, é prática adotada e abençoadora para a vida da igreja.
Isto vale para todos os aspectos da vida espiritual. Quando alguém tem uma revelação de Deus ou experimenta algo novo em Deus, tal qual a conquista de um bandeirante, a sua abre caminho para outros alcançarem vitória semelhante, abençoar a muitos, multiplicar-se, atravessar gerações e saltar para a vida eterna. O antigo bandeirante Anhanguera, por exemplo, demorou meses para varar o sertão a partir de São Paulo, em direção ao Triângulo Mineiro. Hoje, entretanto, a rota que ele abriu, ou pelo menos boa parte dela, tornou-se uma rápida rodovia, que leva seu nome. Ou seja, antes, por este caminho viajava-se meses a pé por caminhos difíceis e perigosos e hoje, o mesmo trajeto é feito em poucas horas, em veículos. Para isto, entretanto, alguém foi pioneiro um dia. Anhanguera abriu o precedente, abriu o caminho e a partir dali a viagem ficou mais fácil.
Assim também acontece no mundo espiritual. Quando temos a revelação e a aplicação de algo espiritual em nossa vida e, especialmente, na vida da igreja, ela traz em si um poder multiplicador, gerador de vida em série e em efeito não apenas cascata mas progressivo e geométrico. A sua vitória agora, ainda que pequena aos seus olhos, torna-se dupla ali adiante, em outra casa ou cidade, que por sua vez quadruplica-se em pouco tempo, e cresce de forma exponencial em seguida e em breve alcança toda a terra, por meio da igreja. É a semente de mostarda, a menor de todas as árvores, que cresce e se torna a maior de todas as árvores. São os pequenos começos, descritos em Jeremias 31;3 e outros versos.
É movido por razões como essas que devemos escrever ou apregoar nossas conquistas pessoais e como igreja. As conquistas como igreja, aliás, são as que merecem maior destaque, porque é o corpo em ação, a coletividade, os membros do corpo, cumprindo as ordens do cabeça.
Ao publicarmos e divulgarmos nossas conquistas espirituais, sejam por quaisquer meios – e o principal deles, lembremo-nos é nossa própria boca – o inferno treme e o Reino se expande por meio da palavra criativa de Deus.
A nós compete, apenas, divulgar estas conquistas. “Vá e conte a todos o que Deus fez na sua vida”, disse Jesus ao cego. Se éramos cegos e agora estamos vendo, se a luz da revelação brilhou em nós, se alcançamos no mundo espiritual uma vitória significativa, ela precisa e deve ser divulgada.
De nossa parte, entretanto, em vez de obedecer ao que disse o Senhor Jesus e divulgar todo o bem de que temos sido objeto, e por extensão abençoar a tantos outros, calamo-nos e, sem nos dar conta, restringimos também o efeito multiplicador da conquista.
A questão é que mal nos damos conta disto, e vivemos alheios ao fato de quem somos nas regiões celestiais, isto é, filhos de Deus e parte de uma nova linhagem em Cristo, totalmente capazes nele. “Vá e conte”.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Irmão Caminhoneiro - Testemunho do Nilo

Luiz Montanini


Há cerca de um ano, o caminhoneiro Nilo Gomes, 47 anos, tinha chegado literalmente ao fim da rodovia. O financeiro era um dos muitos congestionamentos em sua cansativa jornada. As curvas perigosas e a neblina das serras travavam seu caminho e faziam-no andar a esmo, sem enxergar um palmo adiante do nariz. E naqueles últimos meses as coisas tinham ainda piorado porque o caminhão estava parado, por falta de pneus em condições de tráfego. Ele e a esposa viviam sem esperança, sem a menor perspectiva de vida.
Mas em abril do ano passado, de forma maravilhosa, Cristo entrou em suas vidas e desde então tudo tem sido diferente para o Nilo, para a Tânia e para o filho Matheus.
Histórias como esta têm sido testemunhadas em reuniões domésticas e cultos cristãos. E devem ser apregoadas mesmo, porque por sí só são tremendas. Mas o testemunho do Nilo trouxe um componente adicional, que abençoou a igreja que o recebeu em Valinhos, São Paulo, e espera-se que, publicada, possa abençoar outras tantas – ainda que o preço a pagar por isto seja também literal, isto é, constranja os membros a enfiar a mão no bolso.
Como a maioria dos que chegam às igrejas, Nilo estava quebrado na alma, na vida, e no banco. Sua sina parafraseava a história da samaritana à beira do poço, porque cinco caminhões tivera e o que tinha agora não era dele – estava alienado. Era um caminhoneiro à beira do abismo, no bico da curva...
A chegada de Nilo e Tânia coincidiu com uma palavra sobre socorro que Deus falava no momento à comunidade em Valinhos. A palavra, em resumo, orientava a igreja a não despedir vazias as pessoas e a dar sem esperar troca. Mostrava Jesus mandando os discípulos dar eles mesmos de comer à multidão, e que deixassem com ele o milagre da multiplicação e da salvação.
Como Nilo e Tânia mostraram-se dispostos a caminhar no espaço estreito do discipulado a Cristo e boa parte da igreja local – a começar pela liderança – estava decidida a vivenciar a palavra recebida, os passos passaram a ser dados.
Orçamentos refeitos em favor da família dos outros
Mentoreados, e cobertos por oração, o casal decidiu fazer novas todas as coisas em sua vida; a cada passo de obediência de Nilo e Tânia a igreja dava outro favorável na direção deles e às vezes, para animá-los, antes mesmo da obediência do casal a igreja sinalizava com ações, leia-se dinheiro mesmo. A dívida era alta, próxima dos R$ 100 mil - e ainda está sendo paga -, mas alguns irmãos ofereceram seus poucos peixes e pães em favor deles.
O primeiro passo no projeto baixar dívidas/ampliar estima foi o de arrumar o caminhão, a ferramenta de trabalho do Nilo. Trabalho, ou seja, o frete, ele tinha, garantido por uma empresa de embalagens.
O caminhão precisava de quatro pneus novos. Dois irmãos em Cristo se cotizaram e compraram os pneus, caros. Outros valores, oferecidos por outros irmãos, socorreram necessidades do próprio veículo (alinhamento e balanceamento dos novos pneus, solda de baú furado, etc) e da casa (mantimentos, algum dinheiro extra para gás de cozinha e enegia elétrica, etc).
Para entrar neste trabalho em favor da família do Nilo, alguns irmãos refizeram seus próprios orçamentos e adiaram compras ou benfeitorias para sí próprios ou sua família.
Simultaneamente a isto, novas situações de necessidades foram surgindo em outras famílias – novas ou antigas da comunidade - e os irmãos foram levados a se envolver mais no socorro. Já não bastava enviar as tradicionais cestas básicas mensais. Era necessário exceder a própria justiça. Como o número de membros da igreja é pequeno e os dízimos e ofertas insuficientes, os irmãos tiveram que optar entre refazer o próprio orçamento – e ter a oportunidade de participar do agir de Deus – ou continuar na mesma e velha opinião formada sobre tudo. Felizmente, escolheram a primeira alternativa.
O perfil da igreja mudou
A igreja hoje está mais feliz, o perfil está mudando. E o coração do Nilo e da Tânia foram definitivamente capturados por Deus. Veja o depoimento do Nilo:
– A primeira manifestação do amor de Deus veio através daquelas ações de socorro por parte de pessoas que nem conheciam a gente direito. Só então veio o contato com o próprio Deus. Tivemos um encontro com ele e desde então ele tem sido fiel conosco, produz um milagre após o outro. Nossas vidas estão transformadas, eu fui livre da escravidão da bebida. E o caminhão não quebra, e olha que é um caminhão velho; é como o povo de Israel no deserto, que andava muito e o sapato e as roupas não gastavam. É um sonho... ainda temos dificuldades, claro, mas agora é diferente, porque Deus está agindo para nos livrar de cada uma delas.
Pré-requisito para o avivamento
É edificante ler alguns testemunhos de pessoas que foram despertadas para se envolver em alguns trabalhos para o Reino, sem a preocupação de receber reconhecimento explícito sobre eles.
Ainda mais alentador, creio, é quando uma comunidade praticamente inteira se envolve em determinado projeto.
O episódio da conversão do Nilo e da Tânia e do envolvimentoda igreja em Valinhos em favor deles é sintomático. E faz com que vejamos a nuvem pequena no horizonte, prenunciando abundante chuva. É um pequeno começo, mas quem não sabe que as grandes conquistas bíblicas e da história do cristianismo foram feitas de pequenos começos?
Ninguém ainda vendeu sua casa e trouxe o valor aos pés de seus líderes, mas um novo e vivo caminho parece despontar. A generosidade, o socorro, o desprendimento, enfim, parece ser mesmo um dos pré-requisitos para o avivamento.
Tudo o que tem sido feito em Valinhos é pouco, é verdade, mas já se vê Deus agir nos pequenos começos. A igreja tem oferecido os poucos pães e peixes diante de tanta necessidade, mas tem descoberto simultaneamente o milagre da multiplicação e o princípio de não desprezar os pequenos começos.
A comunidade começa a entender o que significa não despedir vazio, o que significa dar ela mesmo de comer, o que significa exceder em justiça a religião que está aí.
E este é um item do avivamento que certamente não necessita de uma intervenção de Deus, mas sim de obediência a seu mandamento. Ou seja, a necessidade está aí para que coloquemos a mão no bolso e não despeçamos vazias as pessoas.
Creio que nossa obediência ou não a este mandamento é, neste caso, capaz de movimentar o braço de Deus para que ele faça cair a chuva da sua presença, o avivamento de que tantos falamos romanticamente. Chega de romantismo, é hora de mexer nas economias. Vamos, primeiramente, dar nós mesmos de comer. Fazer o milagre subseqüente da multiplicação e do avivamento não é nossa responsabilidade... mas eles virão.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Onze homens e quase nenhum segredo

Luiz Montanini

Na falta de uma batalha de verdade pra lutar e uma aventura memorável para viver, dois dos três principais desejos do fundo do coração de um homem, apontados por John Eldredge no livro Coração Selvagem (CPAD) – o terceiro seria uma linda mulher para conquistar -, um grupo de onze homens cristãos acampou recentemente por três dias, na beira do rio Jacaré-Pepira, no município paulista de Itaju, próximo a Jaú e Ibitinga.
Alguns deles, em companhia de seus filhos jovens ou adolescentes, não cavalgaram ou lutaram como William Wallace em sua saga para libertar a Escócia (veja o filme Coração Valente) e tampouco singraram 7 mil km de oceano em barcos a remo, como Amyr Klink. O que fizeram, juntos, entretanto teve valor tão ou mais significativo, a julgar pelos relatos posteriores dos participantes.
O plano do grupo era simples. Os profissionais e estudantes deixariam seus afazeres e até o restante da família por algum tempo, desligariam seus celulares e partiriam para um momento raro onde ouviriam a Deus e teriam lazer e relacionamento de amizade com toda a liberdade, acampados à beira de um rio, totalmente fora de suas zonas de conforto.
Os onze homens estavam dispostos a não manter nenhum segredo diante de Deus e até uns dos outros durante aquele tempo, especialmente a respeito de suas aspirações e frustrações. Haviam entendido, por meio de conversas anteriores no grupo, pela Palavra de Deus e por livros como “Para além dos limites”, de David Wong, fundador do Instituto Haggai, que fora da zona de conforto estamos mais abertos a mudanças e encontramos oportunidades de crescimento, só para ficar nestes dois itens.
E lá foram eles. O local escolhido foi o Chalés Corvinaré (www.chalescorvinare.com.br), na beira do rio Jacaré-Pepira, um dos mais limpos do Estado. Ali, o grupo pernoitou em um dos chalés, comeu à beira de um fogão à lenha na casa do dono da propriedade e amanheceu ao som de uma canção cristã acompanhada por violão. Era o toque de alvorada para todos se levantarem e ter um tempo de adoração e compartilhar juntos, como aliás aconteceria nos dias seguintes.

Homens voltam a olhar as aves do céu e os lírios do campo

Após um café animado, o grupo embarcou em três barcos rumo ao local escolhido. Um dos botes, puxado por outro, levou as barracas e apetrechos do acampamento. Depois de meia hora de navegação, alguém brincou: mata à vista. Ali, engenheiros de computação e da construção civil, advogado, motorista de caminhão, jornalista, contabilista e estudantes localizaram a clareira na mata, limparam-na e ergueram as barracas.
Alguns foram pescar, outros saíram para explorar o local, outros ainda foram atrás de lenha para a fogueira da noite, tudo de forma alegre e natural. À noite, após o peixe pescado e frito, em volta da fogueira acesa, cantou-se a Deus, houve bate-papo, e compartilhar de palavra, relacionada à igreja simples que Deus almeja e à nossa ação como alguns dos muitos homens que Deus quer levantar neste processo.
Hombridade foi o tema principal das conversas em volta da fogueira. Observou-se que há algo fora do lugar com os homens, o gênero masculino, hoje e que, definitivamente, ele vive em função de sua própria criação e não da de Deus. Em razão disto, tem se esquecido de “olhar as aves do céu e os lírios do campo”, como Jesus ensinou.
Jesus, o padrão de homem feito, foi, é claro, também o padrão em todo aquele tempo. A respeito de Jesus, e do que ele transfere aos seus, alguém compartilhou: “À direita de Deus, nesse exato instante, está um homem. Ele é Deus, mas é também verdadeiramente homem. É uma pessoa que alcançou a plenitude como homem e, em decorrência, como tal e pelo Espírito Santo, transforma outros em verdadeiros homens, plenos como ele. A nós compete descobrir quais são estas pisadas e segui-las”. A este respeito, o jovem Renato Avelar abordou, em resumo, nas manhãs dos três dias, a nossa dificuldade em ouvir e em obedecer a Deus – e o corre-corre, é claro, encabeça a lista.

Busca por Deus precede a do lazer

O acampamento do grupo de onze homens e seus segredos ao rio Jacaré-Pepira foi ótimo, etcétera. Em outros tempos não passaria disto, um agradável momento, e ficaria circunscrito ao próprio grupo e seus familiares e amigos e talvez fosse apenas mencionado em um boletim de igreja local.
Mas pensamos em publicá-lo em razão do seu caráter inusitado, uma vez que o grupo decidiu acampar não apenas pelo lazer em si, mas na expectativa de se aproximar mais de Deus e de sua criação, de entender melhor o que significa a igreja e, sobretudo de como descobrir seu chamado e cumprir seu destino e vocação durante os dias da vida.
Por causa do encontro, alguns renunciaram às exigências do próprio trabalho. Lauzier Araújo, por exemplo, engenheiro de processos de uma grande indústria de telefones, desligou seu celular e confiou. Ao final do acampamento, quando o religou, em vez da costumeira centena de chamados da equipe de filipinos que liderava no trabalho no Estado de São Paulo, havia apenas uma ligação na caixa postal, e fácil de ser resolvida. Lauzier voltou para casa decidido a mudar seu estilo de vida. E o fez: deixou a empresa que tomava muito do seu tempo e migrou para outra, próxima à sua casa, que já lhe proporciona o desejado maior tempo com Deus, com sua família e com seu serviço à obra de Deus.
Um dos jovens participantes, Lucas, 22 anos, passou o tempo em busca de Deus. Com chamado missionário, para usar o esporte (futebol) na evangelização, estava sem perspectivas. O grupo, incluindo seu pai, Paulo, orou por ele. Lucas viajou alguns dias depois para a África do Sul, para aprender inglês. Iria aperfeiçoar-se na língua e voltaria para trabalhar como administrador de uma empresa, a pedido de seu antigo chefe. Mas não era bem isto o que ele queria, e Deus atendeu o desejo de seu coração. Na África do Sul, em Cape Town, acabou encontrando-se com um missionário que viera ao Brasil, em um encontro de evangelização pelo esporte no Rio de Janeiro, dali foi levado à Universidade de Stellenbosch, a 50 km de Cape Town, fez um teste na equipe, que disputa o campeonato metropolitano, passou, foi aceito na universidade e integrado ao time. Em 4 jogos até o final de outubro já tinha feito 9 gols e estava utilizando as tardes para evangelizar jovens e crianças em escolinhas de futebol. Vai passar os próximos anos jogando e ensinando futebol e estudando línguas.
O encontro o ajudou? O Lucas mesmo responde: “Foi uma experiência única. Deus não só direcionou o meu caminho, mas também usou irmãos para revelar palavras que hoje vivo aqui na África do Sul. Ensinando e aprendendo a como ser um varão perfeito aos olhos de Deus. O Espírito Santo realmente moveu em nosso meio naquele tempo e nos abençoou como homens e cabeças de famílias."
A busca do grupo – que apenas se iniciou, sejamos realistas – é por algo que o ajude a alcançar todo o potencial como homens para torná-lo cada vez mais semelhante a Cristo, como diz Paulo Junior, em seu livro, a “Alegria de Ser”. É a busca por uma mente renovada, cuja sabedoria vem do alto e é frontalmente contrária a este sistema reducionista de pensar. E, para isto, não raro é necessário acampar à beira de um rio ou sair para três dias de meditação solitária nas montanhas, porque Deus – como disseram o Lauzier e o Lucas - parece ter predileção por nos falar em lugares ou situações inusitadas.

Depoimentos

Que Deus mude o foco da minha vida

“O contato com a natureza (criação) e o envolvimento com a realização da obra de Deus nos traz pra perto do próprio Deus. Foi como me senti naquele final de semana, onde, integrado e em sintonia com o Corpo de Cristo, através dos queridos mais do que irmãos que participaram, e em contato com a criação de Deus, estive acampado por dois dias podendo desfrutar da presença de Deus nos mais simples detalhes da sua criação, gestos dos amados, e compartilhar das Suas bênçãos! Esta tem sido minha oração após este passeio: que Deus mude o foco da minha vida, e que eu possa estar centralizado na propagação do Evangelho do Reino, e não mais na subsistência”.
Renato, engenheiro civil

Contato puro com Deus e sadio entre os homens

“O cotidiano nos faz esquecer a verdadeira essência do ser. A quebra da rotina, ao contrário, de modo saudável como foi nosso passeio, aproxima as pessoas... pais, filhos, amigos e até quem nunca se viu. Encontros assim, integrando homem e natureza, deveriam se repetir com mais freqüência, pois leva a um contato puro com Deus e sadio entre os homens”.
Paulo, do Chalés Corvinaré

O melhor da minha vida

“Já fiz muitos passeios e tive muitos momentos de lazer. Antes de conhecer a Deus, fui ao Rock in Rio e fiz diversas viagens. Mas este foi o melhor passeio de toda a minha vida – e já estou perto dos 50 anos”.
Nilo, caminhoneiro

Foi realmente coisa de homem
“Foi uma experiência muito interessante. Quero mais é poder experimentar coisas diferentes, além do convencional. Ousar mais. Precisamos resgatar a nossa hombridade, recuperar a coragem pra ir à frente. Fazer as coisas para as quais o homem foi criado. Desbravar. E ali, naquele local, desbravamos, limpamos, organizamos e tornamos aquilo habitável, com pessoas exercitando dons e talentos que sequer imaginávamos. Foi também muito bom o tempo ao redor da fogueira, o compartilhar, abrir o coração sem muitas reservas, sem mulheres por perto. Foi realmente coisa de homem”.
Lauzier, engenheiro de sistemas

Revelação à luz da fogueira

“Deus revelou-se a nós à luz da fogueira, na comunhão dos irmãos. Chegamos mais próximos d´Ele através da intimidade que desenvolvemos uns com os outros na simplicidade natural que nos rodeava”.
Daniel, estudante