terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Indiferença! (Lucas 7:36-50)





Francisco Ferreira (com a esposa Daniela)*


Há um mal que tanto tem nos abatido em nossos dias, ao ponto de às vezes não prestarmos atenção e passa despercebido em nossas vidas. Esse mal é a indiferença. Saber dar valor a tudo é um dos dons mais raros e preciosos do mundo.

E vivendo em uma comunidade de discípulos, onde aprendemos a expressar com palavras e gestos o valor dos outros, precisamos entender que cada um de nós carrega uma etiqueta escrita assim: “Feito a imagem e semelhança de Deus.”

Jesus sempre trabalhou positivamente na vida de seus discípulos, mostrando através de palavras e atos de amor a importância de tirar de nossas vidas toda a indiferença. Gostaria de destacar dois pontos sobre a indiferença e como Jesus tratou-a na vida do fariseu Simão:

1. A indiferença nos impede de demonstrar amor

Podemos entender melhor este fato numa passagem no texto de Lucas 7 onde o autor faz questão de dizer que Jesus havia sido convidado, e sendo assim receberia tratamento especial.

a. Sendo recepcionado à porta com um cumprimento habitual por meio de um beijo (ósculo), não como um sinal de afeto, mas como um gesto educado para saudar a chegada do convidado.

b. Lavar os pés era uma obrigação antes das refeições. E sendo o convidado alguém importante, o próprio anfitrião se encarregava da limpeza.

c. A oferta de óleo era um gesto de gentileza e bondade ao visitante.

Nesta história Jesus chega a casa de Simão e não recebe nada. Lucas faz questão de dizer que Jesus foi convidado! (diferentemente da passagem com Zaqueu - Ali Jesus se convidou). Apesar disso ele não recebe nenhum tratamento especial na casa de Simão, nem ósculo na chegada, nem água para lavar os pés e nem óleo para ungir a cabeça (toda esta recepção fazia parte do costume judeu de receber um convidado).

Apesar de toda indiferença de Simão, Lucas passa a narrar a delicadeza e cuidado de alguém que reconhecia o verdadeiro valor de Jesus em sua vida: uma mulher pecadora. Ela se ajoelha diante de Jesus e beija-lhe os pés num gesto de amor como se estivesse cumprimentado-o, e passa a lavar seus pés com suas lágrimas num gesto de gratidão por todo o seu passado e sem toalha passa a enxugá-lo com seus cabelos. E os unge com fino alabastro.

Toda esta indiferença de Simão me faz refletir em algo para minha vida: como tenho agido diante do convite diário que faço a Jesus? Às vezes oramos e até com coração contrito, pedimos: Senhor entra na minha casa, na minha vida, nos meus sonhos e projetos... Mas como temos recebido Jesus? Indiferentes?

2. Um gesto de amor quebra toda a indiferença

Este texto passa a falar de uma pessoa que não fora convidada para o jantar, mas estava ali e, ao observar toda indiferença de Simão por Jesus, se surpreende com a reação de Jesus (Jesus aceita toda a humilhação sem protestar). Diferentemente de Simão esta mulher não pode cumprimentar Jesus com um beijo. Seria uma insolência. Mas nada impede que ela possa beijar seus pés e lavá-los com suas lágrimas. Essa mulher quebra todos os protocolos. Sem uma toalha para enxugar os pés do Senhor, solta seus cabelos e enxuga os pés de Jesus e unge-o com um frasco de fino perfume.

Prostrada diante de Jesus ela se esquece de quem é e se derrama perante o Senhor em adoração e gratidão, sem se envergonhar do que os outros estão pensando. Mas Simão se considerava um homem de poucos pecados. E por isso não conseguia entender o valor da graça. Ele se considerava um pequeno devedor diante daquela grande pecadora. E se esquece do pecado:

· De lábios que não beijam.

· De joelhos que não se dobram.

· De olhos que não choram.

· De mãos que não servem.

· Do perfume que não sai do frasco, que não sai do saleiro.

Pecado de um coração que não se arrepende, de uma vida que não muda, de uma alma que não ama. Simão, vendo toda esta cena, fica indiferente, Lucas não nos fala porque Simão trata Jesus com tanta indiferença. Talvez Simão desejasse realmente receber Jesus em sua casa, mas havia muita gente ali e o que iriam pensar dele! Às vezes também temos tratado Jesus com toda esta indiferença sem percebemos, ao estarmos entre amigos, ou diante da TV, ou computador, ou até mesmo no ambiente familiar. Em qualquer uma destas circunstâncias, nos distanciamos de Jesus.

E ainda em seu coração Simão não concorda com a atitude de Jesus. Por isso Jesus começa a falar com Simão, (num dos diálogos mais lindo e importante da Bíblia) mas olhando para a mulher.

Que tremendo este fato. Jesus está mostrando para Simão: Olha meu filho, olhe para esta mulher pecadora eu vim para estas pessoas e quero que você veja também:

“Vê esta mulher?” Simão não a vê. Simão não vê o que Jesus está vendo.

“Você não me deu água para lavar os pés.” (Jesus fala com humildade e moderação) “Ela, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. A mulher transformou um ato de cortesia em uma expressão de amor.

“Você não me saudou com um beijo. (um ato de amor foi omitido). Mas esta mulher não parou de beijar meus pés.”

“Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés.”

Ao ver o filme sobre madre Teresa de Calcutá me chama a atenção a cena em que ela instrui uma jovem de sua comunidade, que foi nascida em uma família abastada, a cuidar dos pobres. Ela diz assim: “Ao vermos alguém nas ruas sofrendo de várias enfermidades, devemos tocá-lo gentilmente com muito amor e delicadeza, porque Jesus está presente ali” (Lembre-se da plaquinha: produto feito a imagem e semelhança do criador).

Fazemos muitos planos e propósitos para nossas vidas, mas deixa eu te dizer algo, às vezes complicamos nossa fé e vida de muitas maneiras, mas no fundo, nosso propósito é simples: Fomos chamados para amar e testemunhar de Cristo!

Minha oração é que possamos alcançar a sabedoria de desfrutar da simplicidade da vida e de doar-se às pessoas ao nosso redor, como o bom perfume de Cristo!

No amor do Pai

Chico.


Francisco Ferreira é pastor em Campinas, SP

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O que Deus requer de nós?

Ademir Ifanger, compartilhando a Palavra

Vou repartir aqui o que depreendi de uma palavra dada nesta primeira semana de fevereiro, por Ademir Ifanger, pastor em Valinhos.
A palavra tem base no seguinte texto:

Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma?” (Dt 10:12).

Ademir ensinou como este texto bíblico e outros relacionados demonstram que a fé se revela através de nossa atitude para com Deus e sua palavra.

Afinal, disse ele, o que Deus requer de nós senão quatro atitudes fundamentais, o temor, a obediência, o amor e o serviço?

Ademir abordou três coisas sobre as quais ele tem orado nestes dias e que estão ligadas ao temor, à obediência, ao amor e ao serviço: chamado, espiritualidade e existência.

"Tenho orado no sentido de que a minha espiritualidade corresponda ao meu chamado. A espiritualidade, como expressão do conteúdo de minha fé, se revela no temor, obediência, amor e serviço a Deus. Ou seja, todos estes itens devem corresponder ao meu e ao nosso chamado. Se minha vida não está em correspondência com a natureza do meu chamado, estou em pecado, isto é, estou errando o alvo".

Ademir Ifanger explica que no serviço fica implícito que nossa relação com Deus tem correspondência com nosso próximo. Não podemos servir a Deus a quem não vimos e passar de largo diante de necessitados espirituais e materiais.

Ao pensar sobre a existência, Ademir conta que tem se perguntado sobre como fazer com que ela tenha correspondência com sua espiritualidade e chamado. "É fato que a espiritualidade se expressa na existência (é nas prioridades de nossas ações que revelamos o grau de nossa espiritualidade). Entendo que a espiritualidade verdadeira se expressa quando não transijo e mantenho o foco em meu Deus, no seu Reino e na sua vontade".

Ele continua dizendo que o verso dois do Salmo dezesseis mostra o autor dizendo: “Senhor, tu és o meu único bem”. Ao meditar neste texto tenho me perguntado: “Posso realmente dizer isto, que apenas o Senhor é meu único bem?”.

E lembra que o verso três do mesmo Salmo diz: “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer”. É nestes santos que me realizo social e existencialmente falando? Tenho sondado meu coração neste sentido, pergunta-se e continua:

- o que Jesus diz em Lucas 8:21: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”. Ali, Jesus está dizendo que o Pai era o seu único bem. De nossa parte, temos que colocar Cristo e a Igreja e sua missão onde o temor, a obediência, o amor e o serviço se expressam.

Mas afinal, como se expressam o temor, a obediência, o amor e o serviço? Ademir Ifanger explica a expressão destes quatro pontos nos parágrafos a seguir:

O temor se expressa pelo respeito. Respeito a Deus por sua santidade e pureza, respeito por Sua Palavra e respeito para com os chamados por Deus.

O verso dezoito do Salmo 33 traz uma promessa aos que temem a Deus: “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia”.

Os versos 8 a 10 do Salmo 40 mostram que nossa verdadeira alegria está na obediência, em cumprir nossa vocação e chamado.

No verso sete do Salmo 103 está escrito que Deus manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel. Isto nos ensina que há caminhos do Senhor que são trilhados na Terra. Há uma referência dos caminhos do Senhor, os seus santos. Os milagres e ações portentosas de Deus têm por objetivo mostrar os caminhos de Deus.

O amor tem sua expressão no texto de Jo 13:34-35, que mostra sua reciprocidade como marca registrada dos discípulos. Aqueles discípulos na época de Jesus eram judeus e sabiam de cor a respeito do amor, mas precisavam ser renovados nele. Assim estamos nós hoje: sabemos sobre o amor, mas precisamos de algo novo nesse sentido, que realmente leve o mundo a nos reconhecer como verdadeiros discípulos . E ao final, seremos os próprios beneficiados disto porque Jesus quer que nos amemos para que o amor dele esteja em nós e nossa alegria seja completa, conforme lemos em João 15.

Por fim o serviço se caracteriza por alguém disponível, mas paradoxalmente, que tem dono, porque é um servo, é um escravo. O status de um servo, o seu valor, é o que ele faz. Ele é reconhecido por sua obediência, por sua prontidão em servir.


Deus, por quê é mais importante obedecer do que sacrificar?


Entre as muitas formas maravilhosas de Deus agir e demonstrar seu amor, sabedoria, graça e poder uma que me cativa é a de falar conosco em nosso ambiente particular e levando em conta particularidades e peculiaridades. Com alguns Deus fala de uma forma, com outros, de outra, e sempre tremendamente.

Comigo percebo que Deus fala usando não raramente duas situações além das tradicionais de leitura, meditação, oração, essas coisas por assim dizer mais previsíveis. Ele fala durante o banho, quando me surgem geralmente idéias, ou respondendo a perguntas que lhe faço. E, neste caso, quase sempre também me fazendo perguntas que me levam a conclusões reveladoras, as quais creio que são de Deus porque me surgem muito vivas no coração.

Recentemente, por exemplo, o Ronaldo Morais, um pastor amigo, de nosso presbitério em Valinhos, pessoa bacana, exceto o fato de ser palmeirense crônico, citava o texto de que para Deus é mais importante obedecer do que sacrificar, enfatizando a obediência (I Sm 15:22 remete à história de Saul que sacrificou antes da ordem de Samuel e Mc 12:33 aborda o fato de que amar a Deus de todo o coração é maior que qualquer sacrifício). E eu perguntei a Deus no meu íntimo:

- Queria entender um pouco mais por quê é mais importante obedecer do que sacrificar?

A resposta que tive e a conclusão a que cheguei, transcrevo aqui:

Entendi que o sacrifício do Antigo Testamento era feito a Deus em cheiro suave de pequenos animais no altar, como ovelhas, tipificando a morte de Cristo. Já o sacrifício do Novo Testamento é caracterizado pelo próprio Cristo no altar. E como Cristo devemos ser: em vez de sacrificar coisas alheias no altar, que não nos custam tanto, sacrificamos a nós mesmos. Por isso é mais importante obedecer do que sacrificar, porque para sacrificar alguma coisa não há tanta renúncia, no máximo perderemos uma ovelha ou uma pomba. Podemos sacrificar, por exemplo, um jogo de TV do time que gostamos e oferecer aquele tempo do futebol em favor de alguém ou do próprio Deus. Isto exige renúncia, é um sacrifício, é verdade, mas ele é pouco quando comparado ao coração totalmente rendido a Deus (obediente), que sacrifica a si no altar. Ao sacrificar-se esta pessoa está obedecendo por completo, sacrificando a si mesma, por inteiro, e não apenas alguma coisa sua ou que lhe agrade.

O sacrifício religioso pode ter aparência espiritual e até ser espiritual em certo momento, com renúncia de algo incluída, mas tem data para acabar e não passa disso. O sacrifício por obediência envolve a renúncia completa, sem data para terminar porque ali todo meu ser (tudo o que sou, o que tenho, o que sinto, enfim) está no altar. É por isto também que é mais importante obedecer do que sacrificar.

(Luiz Montanini)